estava aprendendo a ler

quando pude trazer da escola pra casa o livro do peixe pixote. o peixe pixote era muito triste porque vivia num rio que era muito, muito escuro e sombrio… todos os dias ele ia passear e ouvia os colegas comemorando “que dia lindo!”, e se divertindo à um sol que ele não entendia ser o único que não enxergava. ele estava confuso e tinha medo do escuro.

o peixe pixote passou o livreto inteiro enxergando o rio escuro porque esteve o tempo todo com os olhos fechados. óbvio mas sim pode acontecer. por fim, um belo dia descobriu que podia abrir os olhos! e enxergou a luz do dia preenchendo o rio límpido todo por dentro e seus colegas lá brincando.

lembro da complexidade do meu medo ao imaginar viver permanentemente no escuro e dentro d’água. um pavor infantil me tomava cada vez que o pegava pra ler, mesmo já sabendo o final. eu gostava do frio na barriga de imaginar a imensidão no breu. em algum momento o livro se perdeu e ficou esquecido para quase sempre na minha memória. até agora.

são 19:19 e estou na estação jurubatuba, de frente pro rio pinheiros voltando de algum lugar. o rio fede, já está frio e escuro feito madrugada e esperando pelo trem, me pego de braços cruzados observando compenetrada uma chuva fina que atravessa a água escura. num súbito, diretamente do inconsciente me recordo do peixe pixote! mas não me lembro de pronto seu nome. “história infantil de peixe que não enxergava porque estava de olhos fechados: google pesquisar”.

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