o fone verde da banquinha de jornal

em um dia qualquer desta semana fui acordada pela obra interminável de um dos vizinhos do meu prédio. levantei, tomei meu café, brinquei com minhas cachorras e resolvi colocar uma playlist qualquer para tocar no celular enquanto decidia o que fazer do dia.

em um certo momento, distraída, percebi que a música que estava tocando era familiar. uma música antiga, cafona, mas que eu gostava desde sempre e que, embora a letra seja um pouco triste, sobre desamor e desencontros, eu me encontrei nela. ou melhor, encontrei uma memória, dessas bem banais, de anos atrás com seu melhor amigo dos tempos da escola.

a memória era boba. lembrei de estar no ônibus com uma amiga, tendo que revezar um fone de ouvido verde que apenas um dos lados funcionava. naquela época, a gente não tinha apego pelos fones de ouvido, nos virávamos com o fone da banquinha de jornal. e, por razões que você já deve ter deduzido, toda semana a gente tinha que comprar um fone diferente. até que veio o fone verde.

contrariando todas as expectativas (que eram baixas, baixíssimas), o fone verde durou muitos dias, semanas, e arrisco dizer que até meses. como a gente amava o fone verde. até que um dia, um dos lados parou de funcionar e a única solução para não nos desfazermos dele e continuarmos ouvindo música era revezá-lo. e o fizemos, até o seu último respiro, ou sua última batida.

esta crônica é uma ode ao fone verde e à lembrança de dividí-lo com alguém que seguiu dividindo a amizade e a vida comigo. eu não me lembro de quando nos desfizemos do fone verde, eu não me lembro nem se houve um substituto para ele. como poderia? a única verdade é que naquele dia qualquer desta semana eu segui ouvindo miss you, love lembrando do fone verde.

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